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sonho e pó (2020 - 2022)
[trabalho em processo]
Quatro e meia da manhã o galo canta no terreiro. A luz da cocheira do vizinho acende e começam os preparativos para arriar a tropa de burros e mulas. Na bolsa de lona transpassada pelo corpo, o tropeiro leva marmita e uma garrafa térmica com café. Em noite de lua cheia, a estrada é iluminada pelo clarão, mas geralmente às cinco da manhã nada se vê, só se ouve o barulho das pisadas dos animais em marcha em meio ao sereno da madrugada. No alto da plantação de eucalipto, que aqui se chama lenheiro, ainda não se avista quase nada. “Deve ser como o mar. Eu nunca vi o mar, mas imagino que seja assim”, diz o tropeiro. O sol nasce em meio à neblina, o café aquece o corpo e os animais se preparam para puxar metros e metros de lenha cortada nas cangaias que vestem seus corpos. Aos poucos a vista descansa na paisagem que se abre e tudo se transforma. Cantar ajuda o trabalho a ficar menos pesado. Na beira da estrada vão se formando as pilhas de lenha, apanhadas e organizadas pelos trabalhadores do caminhão de carga. O ciclo está quase completo, com a entrega do material às pizzarias em São Paulo. Sábado e domingo ninguém puxa lenha, sempre tem motivo pra celebrar com doses de bebida que adentram o final de semana. Segunda-feira o sol levanta já com tropas prontas no alto da serra e há quem cante o sol do novo dia, ainda no silêncio da noite, embriagados agora pela poeira ao vento.
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